Dark Shadows (Dan Curtis, 1966-1971)
My name is Victoria Winters. My journey is just beginning. A journey that I hope will open the doors of life to me, and link my past with my future. A journey that will bring me to a strange and dark place, to the edge of the sea, high atop Widows' Hill, to a house called Collinwood. A world I've never known, with people I've never met. People who are still only shadows in my mind, but who will soon fill the days and nights of my tomorrows.
Num sonho, o
produtor Dan Curtis viu uma jovem mulher a viajar num comboio e teve uma ideia
para uma série, que propôs à cadeia televisiva norte americana ABC. Na tarde de
27 de Junho de 1966, surgiu o primeiro episódio de Dark Shadows e a voz de Victoria Winters (Alexandra
Isles), a mulher com que Curtis tinha sonhado, anunciava a sua viagem até
Collinwood e antecipava estranhos acontecimentos que iriam rodear a sua vida
futura. Ao longo dos anos, com transmissões diárias, a série teve níveis de
audiência tão consideráveis que permaneceu em antena até 2 de Abril de 1971,
com 1225 episódios emitidos. Na primeira leva de episódios, o enredo girava em
torno da órfã Victoria, que chegava a Collinwood, uma casa senhorial
propriedade da família Collins, para trabalhar como educadora de um jovem rapaz
e encontrar pistas para mistérios relacionados com o seu passado. Os terríveis
segredos que rodeavam a familia Collins criavam um ambiente gótico e de
suspense continuo, que era algo de novo para o horário da tarde em que a série
era apresentada.
Com o andar dos
episódios, os dramas da família Collins foram acentuando um lado sobrenatural
que, apesar de os ambientes já o sugerirem, não estava presente no primeiro guião que fora escrito. Seis
meses depois do inicio da transmissão, os fantasmas eram um assunto recorrente.
Um ano depois, no episódio 210, quando uma das personagens procurava por jóias
num mausoléu pertencente à família Collins, ao abrir um caixão, uma mão entrou
pelo enquadramento em direcção ao seu pescoço. No episódio seguinte, vemos,
finalmente, o dono dessa misteriosa mão, com a entrada em cena da mais popular
personagem da série, o vampiro Barnabas Collins (Jonathan Frid). Outras figuras
e fenómenos sobrenaturais se seguiram: lobisomens, bruxas, monstros, viagens no
tempo e universos paralelos.
A decisão de
introduzir Barnabas Collins foi tomada para pôr fim à curva descendente do
nível de audiências e o seu aparecimento foi tão eficaz que acabou por dar a
Dark Shadows o período de maior popularidade. Nessa altura, já os miúdos saíam
da escola e corriam para casa, para se sentarem em frente ao televisor, e as
donas de casa atrasavam os afazeres e preparativos para o jantar, fascinadas
pelos frequentes twists dramáticos. Barnabas Collins permaneceu até à
actualidade como uma das mais carismáticas personagens televisivas e, por isso,
parte importante do folclore televisivo universal. Algumas das suas
características remetem-no para o Drácula de Bram Stocker, nomeadamente a
condenação a que está submetido, o
carácter solitário e o inconformismo com a perda da amada. Tanto o amor que persegue, como o seu instinto
protector pela família Collins, são permanentemente desafiados pelos impulsos
violentos com que fora amaldiçoado. Uma luta entre a luz e a sombra, portanto.
Durante longos
meses, Dark Shadows foi para o ar com um preto e branco que, além de criar
intensidade dramática, também acentuava o lado gótico dos cenários e das poses
das personagens. Em 1967, com a chegada da cor, as sombras ganharam outra tonalidade, mas a popularidade
continuou muito alta. A partir desse ano, dá-se também uma revitalização da
história, com o uso de viagens no tempo e universos paralelos, que ajudavam a
explicar acontecimentos presentes e a descobrir novas facetas das personagens.
Nessas viagens e universos os actores ganhavam novas personagens e isso talvez,
também, explique a longevidade e o interesse continuado que Dark Shadows criava
no espectador.
Se Dark Shadows
tornou Jonathan Frid numa das faces da cultura popular, também resgatou do
esquecimento a fabulosa actriz Joan Bennett. Na década de 1940, a actriz tivera
grande sucesso em Hollywood, principalmente com um grupo de filmes que Fritz
Lang realizou. Falamos de Man Hunt (Feras Humanas, 1941), The Woman in the
Window (Suprema Decisão, 1944), Scarlet Street (Almas Perversas, 1945) e Secret
Beyond the Door (O Segredo da Porta Fechada, 1947). A sua popularidade como
femme fatale não impediu que, em 1951, um escândalo pusesse fim à sua
fulgurante carreira cinematográfica. O marido, com ciúmes, disparou sobre o seu
agente, o que a forçou a trocar a projecção mediática de Hollywood por um lugar
bem mais discreto na televisão. Uns anos depois do sucesso da sua participação
em Dark Shadows, a actriz terminaria a sua carreira cinematográfica num grande
filme de Dario Argento, Suspiria
(1976).
Entretanto, em
1971, o Congresso dos Estados Unidos criou uma lei que proibia os anúncios
televisivos de tabaco e que, aliada à recessão económica que o país atravessava,
levou a grandes quebras nas receitas das cadeias de televisão. Assim, a ABC
viu-se forçada a impor uma racionalização de meios e cortes nos custos. Tendo
em conta que as audiências de Dark Shadows estavam, novamente, a decrescer e que o seu
público, maioritariamente em idade escolar, não seduzia os grandes anunciantes,
a cadeia de televisão decidiu dar por finalizada a produção da série. Depois de
cinco anos ininterruptos em antena, em 2 de Abril de 1971, no último episódio,
a característica voz off anunciava o fim de Dark Shadows.
for as long as they lived, the Dark Shadows of Collinwood, were but a memory of the distant past.
Aproveitando o
sucesso televisivo de Dark Shadows, Dan Curtis realizou dois filmes a cores baseados em vários acontecimentos e com actores da série: House of Dark Shadows (Amores de
Vampiros, 1970) e Night of Dark Shadows (1971). Os resultados foram desiguais.
House of Dark Shadows é um filme bastante estimável. Centrado em Barnabas
Collins, explorou o seu lado mais violento e sanguinário e utilizou o gore de
uma forma que estava ausente na série. Night of Dark Shadows é uma história de
fantasmas que foi penalizada por conflitos na fase de pós-produção, o que levou
Dan Curtis a não aceitar fazer mais filmes baseados na saga da família Collins.
Em 1991, Curtis ainda acedeu a fazer uma revisão da história original para uma
nova série, dirigida a um público mais adulto e que foi emitida pela cadeia
NBC. A sua transmissão coincidiu com a 1ª Guerra do Golfo, o que não favoreceu
a sua continuidade e a renovação para uma segunda temporada. Mas, Dark Shadows
ficou para sempre no imaginário popular, tendo sido utilizada para inspirar
dramas radiofónicos, livros, banda desenhada, revistas, blogues, sites e
encontros periódicos de fãs. Em 2012, Dark Shadows volta a andar na boca de
toda a gente, com Tim Burton a estrear, esta semana, o seu muito esperado
filme. Trata-se de uma adaptação da série original e tem Johnny Depp no papel
de Barnabas Collins.
Em 1966, quando
Dark Shadows foi lançada, o vampirismo não era um tema novo na cultura
audiovisual norte-americana. O cinema, de uma forma recorrente, usou a figura
do vampiro e fez obras primas com grande sucesso mediático. Muito antes desse
ano, tinha estreado o Dracula (Drácula, 1931) de Tod Browning e o nome de Bela Lugosi
surgia em destaque nos cartazes de grandes êxitos de Hollywood. O inédito no
fenómeno Dark Shadows foi o facto de ter tornado o terror sobrenatural num seriado
televisivo diário, emitido num horário em que os espectadores disponíveis eram,
mais os jovens em idade escolar, do que as donas de casa. Como referimos, este
facto, também, acabou por ditar a sua sentença de morte pois o poder de compra estava do
lado das donas de casa, o que afastou os anunciantes e as receitas
publicitárias não acompanharam os índices de audiência. Mas, Dark Shadows abriu
caminho para as grandes sagas familiares que dominaram as longas e populares
séries dos anos 80: Dallas, Dinastia e Falcon Crest. No entanto, em 1980, os
tempos eram outros e a era dos yuppies exigia outras temáticas. Novas questões
relacionadas com o glamour, o sucesso e a riqueza da sociedade norte-americana
tornaram-se o centro das intrigas. Foi preciso chegar à passagem do século, para
os vampiros e o sobrenatural voltarem em força à televisão e em séries
marcantes. Buffy the Vampire Slayer (Joss Whedon, 1997–2003) foi uma das
primeiras a conseguir juntar o apoio do público à aclamação crítica. A notável
True Bood (Alan Ball, 2008– ) ainda continua a ser produzida - com uma nova
temporada a começar já no próximo mês de Junho - mas já apresenta alguns
momentos que evidenciam um certo esgotamento da trama.
Vista em 2012,
Dark Shadows revela-se, deliciosamente, camp. A maquilhagem, as poses e as
roupas muitas vezes parecem excessivas, mesmo se tivermos em conta o ano em que
decorre a acção. Os efeitos especiais arrancam-nos, quase sempre, um sorriso. O facto de grande parte das cenas ter sido gravada com apenas um take,
acaba por revelar erros e imprevistos que não seria suposto vermos numa versão
final, o que dá à série o aspecto de ter sido gravada ao vivo, com público.
Abundam os exemplos assinalados pelos fãs: microfones e câmaras de filmar
que surgem dentro do enquadramento, adereços que caem, moscas em volta da cara
dos actores, vidros que se partem, cordas que era suposto prenderem mas não
estão suficientemente amarradas, assistentes a passar ao fundo do cenário e, também,
inconsistências nos créditos.
A banda sonora é
outro dos fascínios que, ainda hoje, podemos encontrar em Dark Shadows. Da
autoria de Robert Cobert, ela é responsável pela criação do ambiente
fantasmagórico que pressentimos, desde o primeiro plano. Um dos momentos, onde
isso é melhor traduzido, é no final de cada episódio. Num formato que se
generalizou ao longo da série, ao som do tema musical, os créditos finais
correm sobre um plano de um dos cenários que antes fora utilizado; mas agora,
sem a presença de qualquer actor. //
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