Italians Do It Better - Parte 1


Requiem for a Vampire, Pierre Raph (Finders Keepers, 2012)






















Dir-se-ia que, na Europa, a partir da década de setenta, os italianos se impuseram como os mestres incontestados do terror e do uso do excesso no cinema. Para a atribuição desse estatuto seria determinante a invenção do giallo, um género que junta crime, suspense e erotismo. Mario Bava, primeiro, e Dario Argento, depois, abriram caminho para outros realizadores italianos, criadores de fantasias oníricas que conquistaram ao longo dos anos um público numeroso que, ainda hoje, ultrapassa  as fronteiras da Europa. Na ultima década foram-lhes dedicadas edições luxuosas em DVD, que deram a conhecer ou a rever algumas das obras maiores dos mestres e também outras mais raras, acompanhadas por incisivas notas críticas que contextualizavam as obras e analisavam a sua herança. Se toda a divulgação e reconhecimento crítico que receberam são totalmente merecidos, isso também contribuiu para ofuscar o trabalho de outros grandes autores do cinema europeu do género de terror. Um desses casos é o do francês Jean Rollin. Filho do Maio de 68, dividiu a sua produção entre o cinema de terror, com forte componente erótica, e o porno assumido, juntando nos seus filmes criadores irreverentes provenientes do underground parisiense, da música e da moda.

A editora Finders Keepers acabou de disponibilizar três edições dedicadas às bandas sonoras de Requiem for a Vampire
(Vierges et Vampires, 1971) e Fascination (1979), duas obras maiores de Jean Rollin. Tratam-se de duas edições em vinil de 10", uma para cada banda sonora, e uma terceira em CD, que junta as duas bandas sonoras. A realização destas edições é pertinente, não se dirigindo apenas aos fãs do género e inserindo-se num contexto actual de reabilitação de bandas sonoras de filmes de terror, que inspiram muita da boa música electrónica e pop actuais - Demdike Stare, Sunn O))), Salem,  Xander Harris e as bandas da editora Italians Do It Better são apenas alguns dos exemplos.

A banda sonora de Requiem for a Vampire
é composta por improvisações free-rock da responsabilidade de Pierre Raph. No filme é notável a forma como a música de Raph pontua os planos de Rollin. Num período inicial, que se prolonga por cerca de quarenta minutos, acompanhamos duas mulheres em fuga pelos campos, algures no interior da França, e , embora quase não haja diálogos, o jogo criado entre as imagens e a música nunca permite que o filme perca o fôlego. Para Fascination, Philippe D'Aram criou uma música fantasmagórica com elementos de sintetizador, serrote, drones e coros. Em alguns momentos lembra-nos a música que John Carpenter criou para os seus filmes. Ambas as bandas sonoras emancipam-se muito para além das imagens, o que as torna em marcos importantes na experimentação sonora da década de setenta e permite entender até que ponto a sua herança se manifesta na produção actual. As edições vêm acompanhadas por notas da autoria do realizador Daniel Bird.

Em entrevista à Fact, Andy Votel, um dos patrões da editora, declarou as suas intenções. "Finders Keepers is very proud to have the means to present Rollin fans with something that they’ve deserved for a long time, and we hope to open up his work to another generation of open-minded viewers, but as far as making apologies for it, or trying to justify it to the out-dated art-house ‘establishment’, well, I’m not here to do their homework". 
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Fascination, Philippe D'Aram (Finders Keepers, 2012)

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