The trick is not minding that it hurts



Prometheus (2012, Ridley Scott)



Depois de Taxi Driver (Martin Scorcese, 1976), a Columbia TriStar Warner prossegue a programação de clássicos incontornáveis da história do cinema com Lawrence of Arabia (Lawrence da Arábia, 1962) de David Lean, uma versão romantizada da vida de T. E. Lawrence (Peter O'Toole), enquanto agente na revolta dos árabes contra os turcos, durante a Primeira Guerra Mundial. A reentrada de Lawrence of Arabia no circuito comercial dá-se nas salas da UCI Cinemas, em cópia restaurada com som e imagem digitais. Ironia do destino, para um filme que se apresenta como um marco de um outro tempo, ainda antes das pipocas e das salas multiplex. Tal não obscurece a iniciativa da Columbia TriStar Warner, que merece ser acompanhada, principalmente pelos deslumbrados com os pastelões do presente.

O papel de T. E. Lawrence como estratego militar na revolta dos árabes, originou um mito que seduziu o Império Britânico, enquanto resposta a insucessos noutras frentes da guerra. No entanto, mais que pelos feitos heroicos, Lawrence ansiava ser lembrado como escritor. In the distant future, if the distant future deigns to consider my insignificance, I shall be appraised rather as a man of letters than a man of action, afirmou. Em muitas cartas e dois livros autobiográficos, mostrou-se um observador atento de pessoas, costumes, lugares e acontecimentos, tendo o deserto e as suas comunidades, com quem conviveu, exercido sobre ele um enorme fascínio. A influência de Lawrence na cultura popular é vasta, estando uma das mais recentes presente em Prometheus (2012) de Ridley Scott. Podendo ser considerado como uma prequela da série Alien, o filme acompanha a viagem da nave espacial Prometheus até ao planeta LV-223 em busca de informação sobre as origens da vida na Terra. Prometheus defraudou expectativas e a sua campanha publicitária apresentou-se bem mais inspirada que o filme. Um dos poucos elementos de interesse é a personagem David (Michael Fassbender), um avançado modelo de androide que, embora replique as propriedades biológicas da pele humana e expresse emoções complexas, é incapaz de viver sentimentos humanos, como o medo ou o sofrimento. Peter Weyland (Guy Pearce), o criador de David, cita T. E. Lawrence e incute no "filho" igual paixão. Durante a viagem até ao planeta, enquanto a tripulação está em hibernação, David vê obsessivamente Lawrence of Arabia, copia a cor e o corte de cabelo e repete as falas de T. E. Lawrence. Apesar da curiosidade que sente pelos humanos e da servidão que lhes deve, David considera-os inferiores e menos preparados para a exigência e letalidade da missão que os espera na paisagem desértica do planeta LV-223 - ou melhor, incapazes de aceitar as propriedades redentoras do sacrifício. Ainda seguindo o pensamento de T. E. Lawrence, the trick is not minding that it hurts//



Lawrence of Arabia (David Lean, 1962)



Prometheus (2012, Ridley Scott), Peter Weyland na campanha viral




2 comentários:

ArmPauloFerreira disse...

Admiro estes artigos onde se parte de um ponto e se chega a outro.
Quanto ao Prometheus... com tanto material extra de promoção, penso que dariam para criar uma versão extended do filme. Eu veria...

there's something out there disse...

Paulo, muito obrigado pelo elogio. Eu também veria a versão extended e agradececia que dessem mais relevo a David. E, se não for pedir muito, o mesmo para a Vickers (Charlize Theron).