Holy Motors (Leos Carax, 2012)
12
Leos Carax, Holy Motors
Ti West, The Innkeepers
Francis Ford Coppola, Twixt
Aleksandr Sokurov, Faust
Chul-soo Jang, Bedevilled
Ben Wheatley, Kill List
Scott Derrickson, Sinister
Gabriel Abrantes, Daniel Schmidt, Palácios de Pena
Xavier Gens, The Divide
Alexandre Bustillo, Julien Maury, Livide
David Cronenberg, Cosmopolis
Adam Wingard, David Bruckner, Ti West, Glenn McQuaid, Joe Swanberg, Radio Silence, V/H/S
Em 2012, Portugal descobriu Béla Tarr. Ironicamente, isto acontece por altura da estreia de O Cavalo de Turim (A torinói ló, 2011), o filme com que Tarr manifestou a vontade de largar o trabalho de realização e dedicar-se a actividades educativas. Faz filmes desde 1977 e tem obras grandes - e não nos referimos apenas à duração, uma vez que O Tango de Satanás tem quatrocentos e trinta e cinco minutos - que exerceram uma influência importante no cinema contemporâneo. É a ele que um gasto Gus Van Sant deve a reinvenção da sua obra a partir de Gerry (2002). Em Portugal teve apresentações esporádicas na Cinemateca ou em festivais e o lançamento discreto de O Homem de Londres (A londoni férfi, 2007) em DVD, mas nunca o circuito de distribuição tinha apresentado um filme seu em sala. Já no final do ano, a Midas Filmes também disponibilizou em DVD o primeiro volume da obra integral do autor e que inclui, para além de O Cavalo de Turim, outros três filmes: O Tango de Satanás (Sátántangó, 1994), Danação (Kárhozat, 1988) e As Harmonias de Werckmeister (Werckmeister harmóniák, 2000). Inevitavelmente, quase toda a gente colocou O Cavalo de Turim na lista dos melhores filmes de 2012. Crendo no que diz o ditado, mais vale tarde que nunca, pelo que Béla Tarr é, merecidamente, um dos heróis de 2012.
Analisando a lista que criámos com os filmes marcantes do ano que findou, dá que pensar o facto de grande parte deles não terem sido (ainda) distribuídos em Portugal. A Cinemateca Portuguesa, os festivais, o formato DVD ou a divulgação online apresentaram-se como os recursos preferenciais para quem quer ver bom cinema em Portugal, sem estar cingido às escolhas dos distribuidores. Não nos venham então com a lamuria do costume relativa ao decréscimo do número de entradas no cinema pois foram as estratégias distorcidas de distribuição que contribuíram decisivamente para o afastamento do público das salas e permitiram que se instalassem de forma definitiva hábitos alternativos de consumo. Não falamos apenas de obscuros cineastas independentes mas também de Francis Ford Coppola que depois de ter ganho óscares e de ter levado um estúdio à falência, trabalha agora dentro de um modo de produção que, comparativamente, poderíamos caracterizar como familiar. É a ele que hoje o sistema recusa distribuir os filmes, depois de, na década de 1970 como parte dos movie brats, ter alimentado o motor que implantou o conceito moderno de blockbuster. E o que dizer do caso de Aleksandr Sokurov, de quem o celebrado Faust já teve estreia, há mais de um ano, no Festival de Veneza 2011? Até poderíamos estar a ser injustos e todos estes filmes já terem estreias planeadas para as próximas semanas ou meses. Mas sendo assim, como os enquadrar numa estratégia eficaz de distribuição, sabendo que parte do seu público potencial já os visionou?
Outro dos grandes desconhecidos do público português é o jovem realizador norte-americano Ti West. Tem uma obra surpreendentemente coesa dentro de um dispositivo que, por facilidade de linguagem, se resolveu apelidar de slowburning. West demonstra ter uma consciência elevada dos mecanismos do medo, aliando ritmo lento a um delicado trabalho em torno das personagens, algo que parece estranho ao género de terror, mais habituado aos gritos e ao gore. A ironia é que o resultado apresenta-se, crescentemente, tenso e perturbador, longe da anestesia que o "ruído" da maior parte do cinema de terror contemporâneo provoca no espectador. Depois de revisitar a década de 1980 com The House of the Devil (2009), em The Innkeepers Ti West ressuscita uma das estrelas da época, Kelly McGillis, e junta-a à deliciosa Sara Paxton numa viagem pelos últimos dias de um hotel que parece assombrado. Durante grande parte do filme diríamos estar face a uma comédia subtil, o que levou vários críticos irritados a referir que não se passava nada. Ainda bem. Apesar de o termos visto logo em Janeiro, The Innkeepers manteve-se inabalável no topo da nossa lista de preferências até aos últimos dias de 2012, altura em que estreou Holy Motors de Leos Carax. Já estávamos seduzidos por algumas imagens que tinham surgido, mas não esperávamos tamanho abalo. Holy Motors é um grande, imenso filme que vai ficar para a história como um dos marcos da presente década. E acompanha Cosmopolis (David Cronenberg), criando outra das imagens emblemáticas do ano: a limusina branca.
V/H/S (Adam Wingard, David Bruckner, Ti West, Glenn McQuaid, Joe Swanberg, Radio Silence, 2012)
+ 12
Personagem: David 8 (Michael Fassbender) em Prometheus (Ridley Scott)
Actor: Denis Lavant em Holy Motors (Leos Carax)
Actriz: Elizabeth Olsen em Silent House (Chris Kentis, Laura Lau) e Martha Marcy May Marlene (Sean Durkin)
Banda sonora: Tortoise em Lovely Molly (Eduardo Sánchez)
Direcção de Fotografia: Bruno Delbonnel em Faust (Aleksandr Sokurov)
Evento: SITGES no My One Thousand Movies / Tom Six no MOTELx / Chantal Akerman no Doclisboa' 12
Televisão: The Walking Dead (Frank Darabont), 2ª Temporada
DVD: Béla Tarr - Volume I da Midas Filmes
Lost & Found: Fascination (1979) de Jean Rollin
Ainda não foi desta que vimos: You're Next (Adam Wingard)
Desilusão: The Tall Man (Pascal Laugier)
Filme (pior): Darkshadows (Tim Burton)
Se algo de realmente estimulante pode acontecer no espaço virtual é o seu desejável desapego às estratégias comerciais. Num momento em que, com a queda das receitas publicitárias, os meios de comunicação social seguem o caminho da vulgarização dos conteúdos culturais, cabe ao espaço virtual alimentar e manter viva essa independência, assumindo-a como elemento diferenciador. Mas não é claro que isso aconteça de uma forma efectiva, já que muitas vezes os sites e os blogues repetem as ligações subservientes que os outros meios estabelecem com os produtores e distribuidores. Existem ainda exemplos onde a fronteira entre a produção, distribuição e divulgação se tornou claramente dúbia ou inexistente, como é o caso do site Bloody Disgusting. Sendo um dos sítios mais visitados pelos fãs do cinema de terror, já se tinha acercado à distribuição com a série Bloody Disgusting Selects. Em 2012, juntou uma série de realizadores promissores e criou V/H/S, uma antologia de terror baseada no conceito de found footage e que foi apresentada em Sundance e depois no MOTELx. O site cedeu-lhe uma cobertura mediática excepcional que lhe permitiu, primeiro, o lançamento em Video on Demand e depois em sala, tanto nos Estados Unidos como noutros países.
Também não deixa de causar espanto a forma como, nos últimos anos, se tem multiplicado o número de iniciativas destinadas a premiar a actividade da blogosfera. Se é verdade que elas criam um espírito de comunidade que poderia resultar salutar, por outro lado levam a que se imponha uma vontade de agradar e uma necessidade de auto-celebração que parece desajustada quando falamos de meios que, na maior parte dos casos, não estão sujeitos a imperativos de ordem económica. Posto isto, cumpre-nos informar que não temos nenhum prémio para entregar mas que ainda assim gostaríamos de assinalar, como um dos momentos do ano, a passagem de um ciclo dedicado ao SITGES Festival Internacional de Cinema Fantástico de Catalunya no blogue My One Thousand Movies. Criado em 1968, SITGES é um dos principais festivais de cinema fantástico do mundo e que serviu de porta de entrada na Europa para as várias tendências que dominaram o terror das ultimas décadas. No My One Thousand Movies foram muitas as horas de filmes que foram oferecidas, mas valeu bem a pena seguir as notas cuidadas e o percurso que foi traçado pela história do festival, principalmente no que dizia respeito às suas primeiras décadas. Infelizmente, em meados de Dezembro o Blogger apagou o My One Thousand Movies. Agora existe o My Two Thousand Movies, num novo modelo e onde só constam os posts que foram colocados a partir da sua criação recente. Depois do revés causado no inicio de 2012 com o encerramento do Megaupload, em que o My One Thousand Movies e tantos outros blogues perderam arquivos estimáveis de obras raras, é com mais esta péssima noticia que fechámos o ano.
Quarter Turns Over A Living Line, Raime (Blackest Ever Black, 2012)
+ + 12
Ricardo Villalobos, Dependent and Happy (Perlon)
Raime, Quarter Turns Over A Living Line (Blackest Ever Black)
Burial, Kindred (Hyperdub)
Actress, R.I.P (Honest Jon's Records)
Haleek Maul, Oxyconteen (mixtape)
Chromatics, Kill for Love (Italians Do It Better)
Triad God, NXB (mixtape)
John Talabot, ƒIN (Permanent Vacation)
Black Rain, Now I'm Just A Number Soundtracks 1994-95 (Blackest Ever Black)
Frank Ocean, channel ORANGE (Def Jam)
Cooly G, Playin' Me (Hyperdub)
Lana Del Rey, Born To Die (Interscope Records)
Podcasts, mixtapes e downloads gratuitos oferecidos pelos autores. O preço deixou de ser uma desculpa para não ouvir boa música. Quase que poderíamos fazer uma lista alternativa da melhor música de 2012 apenas composta por estes formatos de custo zero. Para além dos que constam na lista acima, ainda destacamos os seguintes: Instrumental Mixtape 2 de Clams Casino, Fantasea de Azealia Banks, 4eva N A Day de Big K.R.I.T, Kings And Them de Evian Christ, FACT mix 314 de Guido, The Narcissist II de Dean Blunt, Remember Me de Jammer, Late Nights With Jeremih de Jeremih, Nicole & Natalie de Nina Sky, Chrome Lips de Supreme Cuts & Haleek Maul, Bandoolou de Trim e Human Condition Pt. 1: Doleo de Wynter Gordon. Alguns deles, depois do êxito que acabaram por ter, obtiveram a passagem para formatos físicos. É o caso de Trilogy, editado em 2012 pela major Universal e que reúne as três excelentes mixtapes que os The Weeknd lançaram no ano anterior: House of Balloons, Thursday e Echoes of Silence. Citando o nosso herói de 2012, Ricardo Villalobos, diríamos Dependent and Happy. Neste registo, Villalobos assinala o regresso em força às explorações em torno da pista de dança e o reencontro com os antigos fãs, depois das divagações electrónicas com Max Loderbauer em Re: ECM (ECM, 2011). No fundo da tabela encontramos dois dos casos mais mediáticos de 2012. Lana Del Rey é a menina bonita que parece saída de um filme de David Lynch e de quem toda a gente adora falar mal, questionando se as suas capacidades artísticas são verdadeiramente genuínas ou fabricadas. Nós não duvidámos dela e o seu álbum e o dos Chromatics foram aqueles que mais ouvimos durante 2012. Frank Ocean foi outro dos rostos do ano. As confissões que fez relativas à sua intimidade foram o mote para muita especulação à volta das suas preferências sexuais. Tendo em conta o contexto "macho" da música negra em que se movimenta, houve quem achasse que estava a assinar o seu suicídio comercial. Erradamente, pois channel ORANGE acabou por alcançar o primeiro lugar no top de vendas norte-americano. //
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